NO LUGAR DE PRESIDENTE COM O BONÉ DO MST
Lucília Maria
Sousa Romão (1), e
Soraya Maria Romano Pacífico (2)
“As pernas da
tradição não conseguem acompanhar os movimentos dos braços da novidade”. (Carlos Drummond de Andrade).
Ao pontuar que “a palavra é o fenômeno ideológico por excelência”,
Bakhtin nos apresenta o mote para analisar os desdobramentos do encontro dos
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o presidente Lula,
fato ocorrido em 2 de julho de 2003. Na ocasião, Lula recebeu de presente uma
cesta com produtos da reforma agrária, uma bola produzida nos assentamentos e
um boné, que usou por alguns instantes. Foi o suficiente para que o sinal de
alarme do terrorismo midiático soasse alto: a notícia sobre o encontro e, sobretudo, a imagem do boné na cabeça
presidencial correram como rastro de pólvora pelas redações dos
principais órgãos de imprensa, pelos sites
novidadeiros de fofocas, pelos bastidores do Congresso Nacional e pelas
conversas informais na rua. Estava dada a cena enunciativa para que o fato boné
aparecesse como avalanche de perigo, desrespeito às leis do país, ameaça à
democracia e à paz social e afronta ao Estado de direito.
Tais sentidos, determinados por condições de produção bastante
especiais, (o MST não visitava o Planalto desde 18 de abril de 1997), precisam
ser pontuados, afinal o pavor ao Movimento deriva de uma construção histórica
dominante, que sempre prezou em colocar os camponeses e lavradores
politicamente organizados no lugar de malfeitores, bandidos e ladrões, que
invadem propriedades privadas, agridem a Constituição federal e criam
instabilidade e caos no campo. Narrados dessa forma, os sem-terra ocupam no
imaginário nacional, o sítio simbólico dado pela ruptura da democracia e do Estado
civilizado e representam o lugar da barbárie, da ausência das leis e da
desordem social. A mídia, pelas ligações umbilicais que mantém com a classe
dominante, em geral, tem se comportado como o grande e principal amplificador
dos sentidos apresentados acima.
Nesse artigo, pretendemos interpretar alguns recortes de reportagens,
manchetes e artigos, veiculados em jornais, revistas, listas de discussão e sites eletrônicos, que contam o encontro Lula/MST, ou seja, o mesmo acontecimento é observado de
diferentes posições, indicando que as palavras são afetadas pelo lugar social
que o sujeito ocupa em uma conjuntura historicamente datada.
Tendo pontuado o que está naturalizado
sobre o MST (incluindo o seu ícone mais divulgado, o boné vermelho), iniciamos
a interpretação do nosso primeiro recorte. O nosso ponto de partida é o artigo
de Jorge Bornhausen, publicado no jornal Folha de S.Paulo em 03/07/2003, cujo
título “O boné da insensatez” situa a loucura como um atributo
daqueles que usam o boné (leia-se aqui integrantes do
MST). Assim, o presidente é falado como demente, sem razão, nada lúcido,
privado de juízo e de bom senso. Logo no início, o texto estabelece a seguinte
comparação:
“Antes que se completassem 24 horas, o mesmo boné que aparecia na
cabeça de um homem preso na zona da mata de Pernambuco por saquear um caminhão
de cargas apareceu na cabeça do presidente da República (...) o presidente da
República e o MST assumem a causa comum, ou seja, estão embarcados na mesma nau
insensata que inquieta a nação”.
Sob a forma da repetição, amarra-se um ponto no bordado ideológico,
que faz o sujeito colocar o MST como ilegal e criminoso e seus integrantes e/ou usuários do boné merecedores de prisão. Aos poucos,
esse sentido é deslocado ao presidente, que, para esse sujeito, na condição de
primeiro mandatário jamais poderia ter colocado o símbolo de uma quadrilha na
cabeça.
Sabemos que o discurso dominante é produto da historicidade, que
construiu e ainda constrói a criminalização da luta
camponesa e indica apenas que a luta de classes não mudou: as capitanias
hereditárias de ontem continuam a existir sob a forma de latifúndios e os
senhores de outrora tiveram sua designação alterada, mas em nada mudaram o seu poder concentrado no/pelo
latifúndio e as estratégias de defesa de seus privilégios.
Observamos que o interdiscurso, ou
seja, a memória discursiva sobre a luta dos camponeses e a
sua criminalização constituem peças-chave
interpretativas para a investigação de alguns efeitos de sentidos apresentados
hoje. Diz o autor:
“O presidente da República, no mínimo,
contemporizou com os saques e desordens assumidamente realizados pelo MST, por
pessoas usando o boné comum (...) Ora, todo mundo está cansado de saber que o
MST não tem nada a ver com os sem-terra e a reforma agrária. Todos sabemos que o MST é um movimento político
revolucionário que apenas usa a grave questão campesina para efeito de
propaganda e, principalmente, de financiamento, pois recolhe uma porcentagem
considerável de todo o dinheiro que o governo repassa aos assentados; que o MST
tornou-se massa de manobra de aluguel, usada por grupos que precisam de equipes
táticas treinadas em sabotagens, como se viu na semana passada no Paraná; que o
MST ameaça provocar uma nova guerra de Canudos (a loucura crudelíssima que há
um século explodiu no sertão da Bahia) no Pontal do Paranapanema, em São Paulo;
que o MST tende a se ampliar agregando o que, na linguagem da própria esquerda
radical, chamam de lúmpen urbano, com toda a carga de
risco que tal mobilização representa
para o país sem meios, como está sentindo o próprio governo do PT, para
implementar programas sociais compensatórios pela desigualdade de renda ”.
Só mesmo fazendo uma escavação arqueológica dos sentidos aqui
construídos a partir do já-dito é que chegamos à identificação de alguns
genéricos “Todo mundo está cansado” “Todos sabemos” e, assim, com
frases disponibilizadas como verdades absolutas e com força de lei, o autor
apresenta a sentença que se pretende jurídica: “MST tornou-se até massa de
manobra de aluguel” e “MST ameaça provocar nova guerra de Canudos”.
Retornam aqui todos os sentidos de baderna, desordem, ilegalidade, loucura e
crime, que ora já definimos.
Alinhada à mesma retórica, a manchete “Lula
coloca boné de movimento sem-lei, diz líder do PFL” aparece no jornal eletrônico Terra
(TV.terra.com.br/jornaldoterra),
do dia 02/ julho de 2003. Chama-nos atenção a
seqüência “boné de movimento sem-lei”, cuja marca da preposição “de”,
sem a presença do artigo, indica que o “movimento” é de qualquer um, não
existindo elemento restrito e definitivizador. É como
se o sujeito desse discurso falasse de conceitos abstratos e não sujeitos que
fazem leis e as respeitam (ou não). A lei aqui é narrada como patrimônio de uma
única classe, no caso, aquela detentora da terra. É, portanto, posse de quem
tem posses. O lugar destinado ao MST é dado pela ausência de leis: como se o
Movimento e os sem-terra não tivessem regras e estatutos internos; como se a
organização política desse movimento popular não existisse e como se os
usuários do boné não se submetessem à Constituição Federal, vivendo como
fora-da-lei.
Tal síntese não se fixa apenas na manchete, no interior da notícia o
deputado federal José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara, ocupa o
lugar daquele que condena brutalmente o fato de o presidente
Lula usar o boné do MST, apenas por alguns instantes, voltamos a
ressaltar. Vocifera ele: “O encontro em si poderia ter sido para buscar a
paz, mas o presidente, ao colocar na cabeça um símbolo do MST, resolveu se
afastar de todo o resto da sociedade brasileira e incorporar o sentimento do
MST”. Há aqui um efeito de distanciamento entre a sociedade em geral e
o MST; entre o presidente com e sem
boné; entre o boné do MST e “o boné de movimento sem-lei”. Há uma
tentativa de atribuir a Lula os sentidos veiculados e despertados pelo boné,
deixando-o em situação de oposição à sociedade brasileira. A expressão “o boné do MST” marca uma delimitação de
posse, afinal o dono do boné é o MST e a ele cabem todas as responsabilidades
da causa política que os sem-terra sustentam. Desta forma, a implicação do ônus
e da ilegalidade tem como destinatário o movimento popular. No caso em questão,
ao enunciar “o boné de movimento sem-lei”, o sujeito cria uma
proximidade entre Lula e o MST. Ambos são emparelhados na mesma condição e,
entre os dois nomes, circula o sangue quente da desordem, da ilegalidade e do
perigo em uma transfusão irreversível.
“Lula
extrapolou” é um artigo de Antônio Canuto, que recebemos por e-mail da Via Campesina,
organização que agrega as lutas camponesas em diversos paises e que constitui
um circuito de dados e uma rede eficaz de informação, que geralmente não
circula nos órgãos da grande mídia. Em tom de ácida ironia, o autor recorre a
sentidos naturalizados sobre o papel do presidente e a sua representação no
país. Identificamos aqui que esse lugar no país é historicamente marcado por
uma classe detentora de privilégios, representada por um pólo de poder, que
está distante dos trabalhadores, sem-terra e excluídos.
Perguntamos:
a quem serve o presidente? O que se espera que um homem nesse lugar coloque na
cabeça, ou seja, quais ícones podem “tatuar” o corpo de um estadista no trono
do poder? Para quem o presidente deve governar? É preciso recorrer ao
interdiscurso para constatar que, na posição de presidente, é aceito o uso de botton, boné, lenço, chapéu e camiseta
de sociedades ruralistas, de criadores de nelore, de uniões de proprietários de
terras e de siglas de latifundiários. Nenhuma delas deflagra susto, medo ou
pavor. Ao contrário, no âmbito do poder, elas circulam como pratas da casa,
adereços do cenário político e peças necessárias à produção do país. Estranho e
pavoroso é ostentar emblemas da plebe; expor ícones da senzala e deixar à mostra
vestígios dos que se encontram na zona perigosa da pobreza e da indignação.
Nesse sentido, ao colocar o boné do
MST, o presidente atuou como o tenor que desafina durante a ópera. Comportou-se
como aquele que quebra os protocolos do lugar que ocupa e que destoa do
circuito de ações que o poder permite. Daí “extrapolou”, foi além do pólo constituído como permitido para a sua
condição e ultrapassou a fronteira suportável da transgressão. Excedeu-se no
limite do proibido e conjugou sua imagem à
falta de bom-senso. Por não atuar dentro das convenções e sentidos que o
seu papel impunha, o presidente virou notícia bombástica, pois no discurso da
democracia, facilmente entendido como engodo, reza a ladainha de que o
presidente, eleito por todos, deve governar para alguns, para os poucos
detentores da terra e do capital. O boné
do MST na cabeça presidencial é a metáfora invertida de todo esse processo,
pois representa a evocação do movimento popular na esfera do poder constituído.
Usá-lo é a síntese da insanidade e do perigo, porque fere
aquilo que se entende pertinente e adequado para o cargo de presidente eleito e
coloca em evidência aqueles sentidos de reivindicação, que sempre foram
solapados pelo discurso dominante.
Marcamos que, em diversas outras
ocasiões, Lula usou o boné do MST ao longo de sua trajetória sindical,
militante e de candidato, mas foi a primeira vez que o
fez do lugar de presidente. “Voltarei a usar o boné do MST, diz Lula”
é o recorte que escolhemos no endereço www.folha.uol.com.br,
data de 12/07/2003, em que o presidente se pronuncia a respeito do caso: “Já
devo ter tirado mais de 200 fotos com o chapéu do MST na cabeça: vou continuar
pondo”. Ao se referir ao passado, o sujeito, no lugar de sindicalista,
líder operário e simpatizante da reforma agrária, ganha voz, identificando o
momento e as condições anteriores à eleição. Vale destacar que naquele momento
em que Lula angariava apoios políticos; transitava com feroz arsenal de crítica
a ruralistas e postava-se como candidato capaz de fazer a reforma agrária no
país. “Já devo ter tirado” materializa lingüisticamente tal trajeto
político, cuja essência lutadora marcou os anos de chumbo, as greves do ABC
paulista e as primeiras candidaturas de Lula: existe aqui o efeito de sentido
de resistência com a marcação da quantidade bastante dilatada de vezes em que
ele se apresentou ao lado da sigla MST, afinal foram “mais de 200 fotos”!
A
insistência do gesto de usar o boné do Movimento e a permanência dos sentidos
que ele esboça (a saber, a reforma agrária, condenação do latifundiário,
simpatia à luta popular) retornam na forma de um
futuro impreciso e indeterminado, silenciado momentaneamente pelo lugar que o
sujeito ocupa. Há uma interdição no presente, que faz a frase “Voltarei a
usar o boné do MST” significar um passo a ser dado não se sabe quando. O
futuro verbal direciona os sentidos de boné e derivados para outra
temporalidade, pois no presente não é estratégico para o sujeito-presidente se
indispor com ruralistas nem com o setor do agronegócio.
Esse jogo de posições, embora silenciado, significa e tece uma urdidura de
sentidos sobre o estigma que existe em se filiar aos círculos populares, longe
dos salões da corte palaciana. Melhor dizendo, a seqüência “voltarei a usar
o boné” nem desagrada ao MST nem aos latifundiários: o controle dos
sentidos e as zonas de interdição e legitimação do sujeito-presidente demarcam
mais do que performances pessoais, delineiam
representações discursiva e ideologicamente determinadas.
Representações
de poder e resistência tão marcadas que, quando levadas à exaustiva divulgação midiática, correm o risco de fazer cabeças rolarem. O
Portal do Diário Vermelho (site www.vermelho.org.br/diário) apresenta
um texto de opinião de autoria de Bernardo Joffily,
cujo título é: “O boné do MST e a cabeça presidencial”. Observamos que “cabeça”
evoca vários efeitos de sentido: o primeiro, sentido literal do órgão do corpo
em que o boné foi depositado. Outro, que exige um gesto de interpretação, ou
seja, “cabeça” indicia o conjunto de idéias que compõem o projeto
político do presidente. O cabeça do país, autoridade
máxima legitimada por eleições diretas e merecedora da confiança do eleitorado,
perdeu a cabeça quando usou o boné, e aqui “cabeça” engendra os sentidos
de lucidez, razão, bom senso como já discutimos anteriormente. A suposta perda
da credibilidade, transferida ao presidente, está marcada no texto citado acima”
“O
presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), fazendeiro Antonio
Ernesto de Salvo, opinou que a imagem da Presidência ‘ficou maculada’ quando
Lula pôs na cabeça o boné. O artigo do banqueiro/senador
Bornhausen [já interpretado anteriormente], presidente do PFL, concluiu
que ‘ o presidente da República e o MST assumem a causa comum, ou seja, estão
embarcados na mesma nau insensata que inquieta a nação’. Qualificou o gesto de
‘insensatez’, ‘temeridade’, ‘nenhuma pode ser considerada mais grave’,
‘síndrome de Estolcomo’. O deputado Antonio Caiado (PFL/GO), ex-presidente da UDR e membro da bancada ruralista, achou que ‘esse gesto leva toda a população a entrar em
estado de total perplexidade’. Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães Júnior (BA), Lula ‘quebrou o protocolo e
não combate as invasões de terra’. Já o líder tucano no Senado, Arthur Virgilio
(AM), sempre mais estridente desde os tempos de Fernando Henrique, viu no gesto
‘uma sinistra e perigosa escalada que o governo tolera
de maneira licenciosa, por vezes indecorosa, da agressividade do MST’.”
Pelo
que se vê, a grande mídia divulga os sentidos que constroem uma imagem negativa
do MST e do gesto do presidente; controla a polissemia na tentativa de
manipular o gesto de leitura do internauta, e direciona
as representações lingüísticas, visuais e simbólicas para uma região
naturalizada como a única possível de ser dita e narrar o fato. O que nos chama
atenção é que na rede eletrônica, em geral, há um apagamento das condições
históricas de produção dos dizeres; silenciadas elas aparecem como se os fatos
não estivessem ancorados em uma sociedade, no nosso caso,
desigual no quesito distribuição de renda e de terra. O virtual tampona
a realidade de modo a expor apenas fragmentos de sentidos.
A
emblemática foto Lula com boné do MST, reproduzida abaixo, apareceu estampada
em quase todos os jornais e revistas impressos e/ou
eletrônicos, isso sem falar da divulgação dela na obesa programação televisiva.
A imagem do presidente de terno e gravata, vestido formalmente e ocupando uma
sala no Palácio da Alvorada, se contrapõe ao boné vermelho, tão usado nos
barracos de lona preta, onde famílias inteiras insistem em sobreviver como
refugiados dentro de seu próprio país. Está montada a radiografia da
desigualdade: o confronto entre posições de classe, que tem como metáfora o
corpo de Lula. Na cúpula política, incorpora-se um símbolo da base. O boné
tatua a marca dos silenciados; dos que tiveram sua vez negada; daqueles que não
são ouvidos fora do período eleitoral e cuja dor sempre pode e deve ser adiada.
Pensamos que, dialeticamente, o boné inclui na cabeça presidencial os que são
excluídos - seu fiel e histórico eleitorado - na mesma proporção em que promove
a expulsão de Lula do lugar da credibilidade e confiabilidade por parte dos
representantes da classe dominante. Para sintetizar, a fotografia condensa o
jogo de poder derivado da luta de classes, e só a referência a este termo
cunhado pela teoria marxista já provoca celeuma nacional.
Os
artigos e notícias aqui interpretados nos apontam a direção de que as condições
históricas de produção do dizer determinam o jogo tenso entre o poder
instituído e legitimado e aquele que resiste de maneira marginal. Também
indicam que a mídia enuncia de uma posição política, que nunca é neutra dentro
do contexto de disputa e confronto de poderes. Configurada como o grande
megafone da classe dominante, ela tende a ser hostil aos movimentos populares
em geral, como o foi quando Lula era apenas um solitário líder sindical na estrada.
Também tende a sentenciar julgamentos preconceituosos e sensacionalistas nas
suas páginas, em cujo funcionamento-discurso os significantes retornam sob a
forma do mesmo; repetem o já-dito; silenciam a desigualdade social e deslizam
para outras formas de condenação da luta camponesa e do MST. Em suma, a
narrativa do boné e todos os seus desdobramentos retratam quão naturalizado
pela ideologia é o estigma atribuído ao Movimento; quão retrógrada
politicamente é a elite agrária do país e como a posição do presidente é
restritiva no tocante a atitudes “revolucionárias”, ainda que colocar o boné
não tenha nenhuma relação com a realização da reforma agrária (é preciso
ressaltar que, no primeiro ano de governo, Lula assentou apenas 30% do que era
sua meta para o referido período).
Assim,
chegamos ao nosso último recorte, um artigo de Marcelo Barros que correu e-mails
e listas de discussão de esquerda, cujo título é: “O perigoso boné do presidente”.
Com data de 24/07/2003, o autor expõe sentidos que dialogam com o que temos
discutido até aqui. Sintetiza ele, entre irônico e
inconformado, que: “Os meios de comunicação de massa (cujos proprietários,
evidentemente, não defendem seus próprios interesses e agem apenas pelo bem
comum) se encarregarão de mostrar que o culpado das atuais desordens sociais
que correm no Brasil é o MST e não o crescente desemprego urbano e acelerada
ocupação capitalista do campo”.
O perigoso e ameaçador boné deixa de ser
narrado como símbolo do MST e tem a sua posse atribuída ao presidente. Um
efeito dominó faz circular em cadeia os sentidos de gravidade, alarme e risco
emprestados do movimento popular: primeiro em relação ao presidente, depois
à governabilidade política e econômica e, por fim, a todo o país. Temos aqui
uma coreografia discursiva, que sem querer acertou na cabeça.
Bibliografia:
BARROS, Marcelo. “O perigoso
boné do presidente”. E.mail
recebido em 24/07/2003.
BORNHAUSEN,
Jorge. “O boné da insensatez”. Folha de S.Paulo em 03/07/2003
CANUTO, Antonio.
“Lula extrapolou”. Via Campesina
(e.mail).
JOFFILY, Bernardo.
“O boné do MST e a cabeça
presidencial”. www.vermelho.org.br/diário.
www.jornaldaterra.com.br,
02/07/2003.
www.folha.uol.com.br,
12/07/2004.
Resumo:
O propósito
do artigo é o de interpretar diferentes falas retiradas de alguns recortes
de reportagens, manchetes e artigos, veiculados em jornais, revistas, listas
de discussão e sites eletrônicos, que contam o encontro
Lula/MST.
Palavras-chave: ideologia, recortes, presidente, MST.
2-Professora
doutora do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto-Universidade
de São Paulo.