Felipe Berocan Veiga*
Vou abrir essa toada
Cantando com alegria
A vida do professor
Luiz de Castro Faria
Um pensador incansável
De nossa antropologia
Mil novecentos e treze
Em São João da Barra nasceu
Foi aluno do São Bento
E um diploma mereceu
Depois na Praia Vermelha
Num concurso se inscreveu
Edgar Roquette-Pinto
Foi quem fez a argüição
Podia ter dado zero
Pela resposta à questão
Sobre o que não estava escrito
Na prova de seleção
Assim que Castro Faria
Muito bem se defendeu
Roquette-Pinto gostou
E um dez
logo concedeu
Aprovando sua entrada
Para estágio no Museu
Museu Nacional que fora
Imperial moradia
Na Quinta da Boa Vista
Área de Antropologia
Heloísa Alberto Torres
Era quem lhe dirigia
Foi então que em 37
Partiu para a expedição
De Claude Lévi-Strauss
Por estradas do sertão
Chegando à Serra do Norte
No meio da imensidão
Cruzaram de todo jeito
Floresta, cerrado e rio
Seringal, garimpo, aldeia
Nessa viagem febril
Nambiquaras e tupis
Encontraram no Brasil
Faz Castro etnografia
Da habitação popular
Do embarque em pescaria
E da vida em alto-mar
Dos mercados na Bahia
E cerâmica karajá
Fez Castro arqueologia
Explorando nas areias
Das praias catarinenses
Os vestígios das aldeias
Nas jazidas de Laguna
De sambaquis sempre cheias
Pensando Euclides da Cunha
Um sertanejo valente
Seu cérebro sobre a mesa
Do professor nunca mente
Que é conhecedor profundo
Do que pensava essa gente
De Oliveira Viana
Obra e metodologia
De Edgar Roquette-Pinto
A nacional pedagogia
E de Augusto dos Anjos
As moneras da poesia
Foi a Cambridge, Inglaterra
E Musée
de l’Homme em Paris
Lá na França foi bolsista
Da Unesco mas
não quis
Curvar-se ao colonialismo
Cultural desse país
Voltou e em 53
Participou da primeira
Reunião dos antropólogos
Da nação brasileira
Com Heloísa,
Egon Schaden,
Bastide e Oracy Nogueira
Baldus, Thales de Azevedo,
Galvão e Darcy Ribeiro,
Bastos d’Ávila, Altenfelder,
René e Édison Carneiro
Cardoso e Mattoso Câmara
Zés Bonifácio e Loureiro
Depois disso, eles fundaram
A Associação Brasileira
De Antropologia, a ABA,
Na qual ocupou primeira
Gestão o professor Castro
Orgulho em sua carreira
Foi diretor do Museu
Escute você agora
Castro foi quem fez o laudo
Que pedia sem demora
O enterro das cabeças
De Lampião e senhora
Professor da Fluminense
É mentor à revelia
Da Escola Galo-
Fluminense de Antropologia
Onde o índio Araribóia
Teve a sua sesmaria
Da etnologia até
O estudo regional
O Brasil da teoria
E pensamento social
O emérito professor
Sabe ensinar sem igual
Casado com a prima Elza
Também da terra campista
Ambos contrariam o adágio
“Nem a prazo nem a vista”
Tanto a vista quanto a prazo
Castro é grande cientista
Luiz de Castro Faria
Não é homem que se esqueça
O seu pensamento vivo
Todo dia recomeça
Castro é oito e oitenta
E deu tigre na cabeça
*Seu aluno, Felipe Berocan Veiga,
05.07.2001