A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA CULTURAL DO CONTESTADO  

 

Nilson Thomé*

 

1. Introdução 

         Quando da elaboração do Projeto de Autorização de Funcionamento da Universidade do Contestado - UnC ao Conselho Federal de Educação, em 1992, foi criada e incluída a História do Contestado como disciplina básica de ensino, comum nas grades curriculares de todos os cursos superiores oferecidos em todos os campi da UnC. Parece-nos que a UnC veio a ser a primeira universidade brasileira – senão a única – a adotar uma disciplina desta natureza, contemplando exclusivamente estudos sociais regionais. 

         A idéia compreendeu provocar questionamentos sobre o passado, induzindo as novas gerações à reflexão radical e crítica, pois, só a partir da apreensão do acervo histórico e da busca de respostas para as problemáticas levantadas, a sociedade poderia entender melhor as situações presentes, vindo a assumir seu papel de agente de desenvolvimento e continuador de uma História em permanente construção. 

         Para tanto, separamos o temário “Contestado” em dois enfoques. O primeiro, mais amplo, da História do Contestado, com a abordagem sobre a História do Centro-Oeste do Estado de Santa Catarina. O segundo enfoque, mais restrito, contempla a História da Guerra do Contestado, com a abordagem específica sobre a Guerra do Contestado, ocorrida no interior da Região do Contestado, entre dezembro de 1913 e agosto de 1916, envolvendo parte do Homem do Contestado.

         Dentro da Universidade, cabe a esta disciplina, entre outras competências, exercitar a dialética, pesquisar as mudanças, questionar, analisar e interpretar nossa sociedade dentro de um conjunto mais amplo – social, cultural, político e econômico – e favorecer ao Homem do Contestado Contemporâneo a descoberta de um papel a exercer nos dias de hoje no contexto social, inclusive proporcionando-lhe meios para que adote uma posição crítica em face da realidade. 

         As abordagens a seguir, norteadoras das nossas experiências (trabalhos de pesquisa, para produzir História e, de ensino, para transmitir História), refletem o contexto das atividades dirigidas ao temário “Contestado”, dentre elas, as de como conduzimos a construção e a transmissão da História do Contestado pelo viés do cultural.         

2. A Cultura 

Nelson Werneck Sodré adota uma definição de cultura a partir do entendimento de M. Rosental e P. Iudin [1], que a definem como um conjunto dos valores materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história. Entende por cultura o nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc. e as instituições correspondentes. 

A cultura é um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiência de produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura, arte e instituições que lhes correspondem. Em um sentido mais restrito, compreende-se, sob o termo de cultura, o conjunto de formas de vida espiritual da sociedade, que nascem e se desenvolvem à base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinados. (op. cit.). 

O cultural seria visto como o terreno de união entre os diversos sistemas simbólicos de uma sociedade historicamente identificada, cujos produtos e práticas sociais seriam encarados como sistemas de signos – ou de representações, como prefere Chartier [2] . 

Cultura é tudo aquilo criado pelo esforço e pela inteligência humana, quer mostrado sob a forma tangível, material, quer expresso em usos, costumes, idéias e ideais. É um sistema de atitudes, de juízo de valores, de modos de pensar, sentir e agir. É o modo de vida de uma sociedade. Como o resultado das transformações humanas, a soma do conhecimento humano, então, enquanto heterogênea, a cultura é, ao mesmo tempo, material e espiritual.  

A Sociologia ensina-nos que a cultura é cumulativa, ou seja, cresce por um processo de acumulação, onde cada geração contribui para adicionar algo ao que foi socialmente herdado e, que ela é contínua, ou seja, que tem uma seqüência lógica e irreversível, tendendo a crescer ininterruptamente como uma aspiral ascencional. 

3. O Homem do Contestado 

         Referimo-nos ao “Homem do Contestado”, nele distinguindo o “Primitivo” (aquele habitante mais antigo) do “Contemporâneo” (de moradia local mais recente), tendo a Guerra do Contestado como divisor entre um e outro. De fato, o elemento humano que caracteriza o primitivo provém de um passado mais distante, enquanto que o contemporâneo baseia-se no imigrante chegado após a guerra. Mas, também, sempre insinuamos que não só este episódio bélico serve de patamar básico para diferenciar as características de um do outro na História. Entre os ingredientes que diferenciam os dois tipos, está a cultura material e espiritual de cada vertente. O primeiro homem formou um complexo cultural que vem desde o Descobrimento, enquanto que o segundo captou alguns traços culturais do primeiro, ao mesmo tempo em que desprezou outros e, no complexo emergente, adicionou novos elementos que trouxe consigo, ao mesmo tempo em que, igualmente, abandonou alguns traços de origem.
 

         O homem não vive só. Somente sobrevive em grupo. Esta é uma lei natural. Por isso, para compreendermos a cultura de um homem, precisamos estudá-lo a partir do seu grupo social, aquele ao qual está integrado e onde desenvolve suas atividades. Isto, sem contar que, para melhor compreender sua cultura, precisamos também ir às suas origens, portanto, ao grupo social a que ele pertencia anteriormente.         

4. Fatos históricos e História 

         Qualquer povo só constitui uma sociedade humana se tem uma história para poder perpetuar a sua identidade, preservar seus traços culturais e cultivar suas tradições. A história de um lugar qualquer só é compreendida a partir da fixação nele de uma sociedade organizada que, por diversos feitos, modifica a realidade. A ação dos homens sobre a natureza, suas relações e as transformações provocadas, constituem o conjunto de elementos que marcam, no decurso do tempo, a História desta civilização. Caracterizada também, e não somente, como a busca dos restos do passado, a História do Contestado tem nos acontecimentos históricos o seu principal objeto de estudo. Estes são os marcos das realizações com a importância avaliada pelo historiador que mede os envolvimentos das gentes e as conseqüências de suas realizações e, ainda, avalia as repercussões ou implicações que tenham tido ou que ainda têm, presentemente, sobre o meio social. 

         As sociedades humanas estão em permanente movimento, com avanços e recuos, gerando processos sociais de interação, concorrência, competição, conflito, acomodação, assimilação, assim permanentemente provocando fatos sociais marcantes para a produção de História. Quem faz história é o homem, individualmente ou em grupo, pelas suas obras, resultantes das suas maneiras de pensar, sentir e agir. Então, no passado ou no presente, a humanidade fez ou faz história (fatos). No seu tempo, o historiador produz História (estuda os fatos). As questões de tempo e de espaço lhes são subjetivas, circunstanciais. Então, não se produz História sobre “tempo” ou sobre “espaço”. Produz-se História a partir de realizações transformadoras do homem, em determinados locais e épocas. 

No entanto, sem conhecer profundamente as raízes, as origens ou os fundamentos dos eventos históricos, fica comprometida na base a missão de investigar, analisar, criticar, interpretar e descrever acontecimentos, que é típica do historiador. Por isso, trabalhando com fatos, muitas e muitas vezes, mais interessante que saber o que, como, onde e quando, é mais importante refletir sobre o porquê. 

         Em História Sincera da República, Leoncio Basbaum inicia sua obra afirmando que “o objetivo da História não é apenas o de narrar e constatar fatos do passado, mas buscar as suas origens e as suas conseqüências” (Basbaum, 1957: 3). Tratando da categoria da interpretação, para Basbaum, em História, não existe causa única para um fato. Entendendo que a História não é uma simples sucessão de causa e efeito, ele cita Zdanov para registrar que a análise histórica não é uma simples enumeração de alguns fatos expostos sem ligações uns com os outros e simplesmente justapostos. “Na verdade são em geral múltiplas as causas determinantes, agindo em conjunto e ao mesmo tempo umas sobre as obras. Por outro lado, não somente o passado determina o presente. Há na realidade um permanente fluxo entre as várias causas simultâneas, entre os efeitos e as causas, entre o passado e o presente” (op. cit.: 5). 

5. Memória e lembrança 

         Ao propor a construção da “História do Contestado”, oportunizamos e promovemos a discussão entre os significados de Memória e de História, que não são os mesmos, apesar da inter-relação. Em termos pessoais, a memória é algo íntimo e individual que guarda os fatos para si e contribui para com a História na medida em que é solicitada. Em termos coletivos, a memória é o conjunto das experiências vividas  por determinado grupo social no seu tempo. Como a História alimenta-se da memória, esta sendo fonte de informações, maior é o mérito quando a História busca o conhecimento associando várias memórias relacionadas ao mesmo fato.  

         Em artigo publicado na imprensa carioca, Viver para lembrar, a Professora de História, Giselle Martins Venancio, abordou a problemática do registro da memória, para o impedimento da ação do esquecimento, entendendo que

A memória é o que nos faz reviver um fato passado. É ela que nos transporta a um tempo vivido, reacendendo sentimentos que já considerávamos esquecidos. Quem não gosta de lembrar de suas brincadeiras de infância, de momentos passados com pessoas queridas ou mesmo de um filme muito apreciado? Recordar nos mantém em contato com pessoas e tempos passados. A recordação está sempre situada num contexto e, por isso, podemos dizer que a memória não se esgota na esfera individual pois ela é sempre coletiva e, portanto, social. Dizer que a memória não é nunca individual significa dizer que ela é sempre formada e informada pelo grupo a que pertencemos.

No que se refere a nossa formação, vivemos em uma sociedade que se caracteriza pela cotidiana destruição da memória [...].

A memória é informada pelas nossas vivências cotidianas e também pela absorção daquilo que foi possível registrar de experiências anteriores. O registro é fundamental para a memória. É ele que impede a ação do esquecimento. Registrar para não esquecer: este é o movimento da história (In: Jornal do Brasil, 8 ago. 1993, p. 27). 

Em recente obra [3], Peter Burke cita Maurice Halwachs, para quem “a memória é sempre uma reconstrução social do passado, onde os grupos sociais determinam o que é memorável e, pelo inverso, o que deveria ser esquecido”. Burke entende que o acesso ao passado pelos historiadores também está exposto a representações coletivas de nossa cultura, cabendo tratar da memória não só como fonte histórica, mas também como “uma mitificação que pode estar presente de forma inconsciente no exercício da reconstrução do passado”. 

6. História Cultural 

Ao produzirmos História, entendemos ter liberdade para usar diferentes referenciais teóricos ou nos valer de diferentes metodologias, de acordo com as necessidades das diferentes pesquisas. Em Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais; a Pesquisa Qualitativa em Educação, Augusto Nibaldo Silva Triviños lembra Pedro Demo ao expor que o pesquisador 

tem ampla liberdade teórico-metodológica para realizar seu estudo. Os limites de sua iniciativa particular estarão exclusivamente fixados pelas condições de exigência de um trabalho científico. Este, repetimos, deve ter uma estrutura coerente, consistente, originalidade e nível de objetivação capazes de merecer a aprovação dos cientistas num processo intersubjetivo de apreciação (Triviños, 1987: 133).
 

         No mundo acadêmico-científico, constatamos o rigor do academicismo e do cientificismo, enquanto que para muitas pessoas descompromissadas com a ciência e atuantes fora da universidade, a História pode ser desenvolvida de qualquer jeito, de qualquer modo ou de qualquer forma, mas, na academia, História é ciência e disciplina, geradora e transmissora do conhecimento, que só pode ser desenvolvida com sólidas fundamentações teórico-metodológicas, sem ecletismo, sob a condição de o conhecimento não ser levado a sério, quando posto à prova.         

         Se observarmos a pluralidade da Nova História, encontraremos a História Cultural que, para uns, trata-se uma nova vertente, enquanto que, para outros, seria uma variação dos Annales ou da New History. Ela surge timidamente e vem se destacando a partir dos trabalhos de Carlo Ginzburg, Roger Chartier e Edward Thompson, sendo caracterizada pela preocupação com as questões populares, valorização das estratificações e dos conflitos sócio-culturais, e pela recusa do conceito vago de mentalidades. Neste contexto, Edward Thompson é considerado “pai da versão marxista da história cultural”, ele que, na Inglaterra, esboçou uma teoria para o estudo da cultura popular nos moldes marxistas. Sobre este neo-marxista, Pesavento diz que 

centralizando a crítica tanto no que considerava uma postura positivista de análise do marxismo, denunciando o viés economicista e mecanicista da análise, quanto no que chamou de idealismo althusseriano, em que a teoria desconsiderava ou prescindia da realidade empírica, Edward Thompson introduziu inovações nos planos da teoria, do método, da temática e das fontes a serem utilizados pela história.

Mesmo mantendo uma análise classista, como seria de esperar dentro do marxismo, Thompson abandonou a clássica definição marxista-leninista, que identificava a classe pela posição ocupada junto aos meios de produção. Alargou o conceito, entendendo que a categoria deveria ser apreciada no seu fazer, no acontecer histórico, na sua experiência como classe. Cabia ao historiador surpreender os nexos entre pequenas alterações de hábitos, atitudes, palavras, ações, de atitudes que iam mudando ao longo do tempo. (...).

O historiador passava a explorar, assim, os chamados silêncios de Marx, nos domínios do político, dos ritos, das crenças, dos hábitos. (Pesavento, 2003: 28-29).

 

         Fica evidente aqui, neste texto, a simpatia do autor pela técnica do historiador marxista Edward Thompson, por ele empregada ao retratar movimentos sociais e o cotidiano das classes populares inglesas do Século XVII em meio ao processo de industrialização [4]. 

Reconhecer o alto nível da pesquisa em história cultural atualmente feita no Brasil não significa eximi-la de críticas. É possível constatar, em vários trabalhos, um certo ecletismo teórico que vimos ser típico (...). Misturas de Ginzburg com Foucault, deste último com Thompson, nada disso é estranho a vários trabalhos realizados na pesquisa universitária brasileira. (...). Nada disso desmerece, porém, a vitalidade desse campo de estudos, tal como tem sido realizado no Brasil. (...). Sem prejuízo de outros campos de investigação histórica, vários deles também muito atualizados quanto aos métodos e referências teóricas, a história cultural veio para ficar (Vainfas, 1997: 162).  

          Nas atividades acadêmicas, mostramos que tem a História a função de, também, fornecer cientificamente à sociedade a explicação da sua origem e do seu desenvolvimento marcado por transformações. Também para isso, a História relaciona-se com as mais diversas disciplinas e ciências que também estudam o homem, como: Antropologia, Sociologia, Geografia, Economia, Filosofia e Etnologia, ou mesmo com sub-campos de outras áreas, em especial: Arqueologia, Lingüística, Demografia, Genealogia, Heráldica, Numismática, Paleontologia, Diplomacia, Paleografia, entre outras.  

7. Conclusão 

         O Homem do Contestado Primitivo enquadra-se na fase histórica do “pré Contestado” (antes da Guerra do Contestado - 1913-1916). Sua cultura não foi extinta com a guerra. Ao contrário, já carregada de traços culturais herdados, influenciou bastante a cultura dos ítalo-brasileiros, dos teuto-brasileiros e dos imigrantes europeus que vieram à Região do Contestado depois da restauração da paz, aproveitando os planos de colonização das terras da Cia. Estrada-de-Ferro e do Governo do Estado, que se estenderam de 1918 até por volta de 1950. De modo geral, se a cultura do povo – agora dentro da fase do “pós Contestado” – ainda guarda os principais traços estruturais da cultura do povo primitivo, então, temos hoje uma continuidade cultural e não uma cultura nova. As mutações foram circunstanciais. As estruturas foram mantidas ao longo dos anos. As circunstâncias apenas mascararam componentes culturais básicos que nunca deixaram de existir.
 

         Cada época histórica tem sua própria característica e valor; cada sociedade tem evoluído de uma maneira distinta e em resposta a determinadas condições ambientais de sua época e o seu local. São, portanto, os principais acontecimentos produzidos pelo homem neste espaço geográfico e ao longo de todo o tempo histórico, que compõem a História do Contestado, à luz da visão de cada historiador, que junta os pedaços, tanto da cultura primitiva como da cultura atual e, a partir deles, constrói o conhecimento. Esta atividade – juntar os pedaços da história – é a que constitui a base do nosso projeto Resgate da Memória do Contestado. É um projeto vivo, direcionado às raízes da História.        

         A Região do Contestado ainda não tem sua História construída. Tem passado e tem histórias. Dispondo-nos a levantar uma História para o Contestado, necessariamente, lançamo-nos à tarefa de elaborar uma História pioneira, daí porque uma História “nova”, no sentido de “renovada”, ainda que abordando basicamente temas “velhos”, que têm alimentado as histórias conhecidas, a par do levantamento de novos temas, para enriquecê-la. O nosso “novo” não nega e nem renega o “velho”, tanto quanto não coloca ponto final na História, pois que, simultaneamente ou posteriormente, surgem ou surgirão novas produções, com versões diferentes das nossas. Nossa concepção de “nova” está mais ligada a uma História “nova”, Aqui, voltamos ao princípio para recomeçar. Nossa escola é nova, pois objetiva resgatar o esquecido sem esquecer o conhecido. 

Na nossa proposição, caracterizamos a História do Contestado, em sentido mais amplo, e a História da Guerra do Contestado, mais restrita, esta, entendida como a insurreição do catarinense, provocada pelo avanço do capitalismo na região, influenciada pela construção da ferrovia, pela ação danosa da madeireira Lumber, pela questão de limites entre Paraná e Santa Catarina, pelo jogo de interesses entre fazendeiros e políticos, pelo misticismo que havia entre os caboclos, pela estratificação social e sistemas de vida da época, pela posse da terra, pelo messianismo e pela índole guerreira dos sertanejos. Como evento complexo, temos que este conflito eclodiu coincidentemente em tempo e espaço, na junção de motivações sociais, econômicas, políticas, religiosas e culturais, não podendo mais ser analisado e discutido sob um único prisma ou tomado isoladamente por apenas um destes fatores. 

         E para compreender historicamente o evento da Guerra do Contestado, por exemplo, precisamos entender que os aspectos políticos, econômicos, jurídicos, religiosos, militares, sociais, culturais, são apenas partes unilaterais e incompletos de um verdadeiro estudo histórico. 

Uma História deve ser total, da sociedade total, sob pena de não ser compreendida e se limitar a uma simples enumeração de fatos, números ou leis. A História, para ser total, deve não apenas enunciar fatos e acontecimentos, mas buscar as relações entre eles, desde as transformações econômicas às manifestações literárias, jurídicas ou mesmo artísticas. A História de um povo constitui um todo indivisível, sob pena de se transformar em mera divagação artística ou literária, sem nenhuma contribuição ao futuro desse povo. E, ao mesmo tempo, deve buscar os fatos essenciais, fundamentalmente determinantes do processo histórico particular desse povo ou país, o eixo ou a linha geral em torno da qual se desenvolveu, a qual, sendo feita pelo homem, é passível de ser modificada pelo próprio homem. (Basbaum, op. cit.: 7). 

José Honório Rodrigues escreveu que a História não é dos mortos, mas dos vivos, como uma realidade presente, obrigatória para a consciência. Tratando da historiografia universal, ao lembrar que a arte da História consiste em manter sempre viva a conexão entre os que contemplam o passado e os que contemplam o presente, afirmou que a História precisa olhar a floresta e não apenas as árvores, oferecendo uma interpretação generalizadora que ajude os vivos a compreender as raízes do presente (Rodrigues, 1965: 14).  



Notas

 

[1] Dicionário Filosófico Abreviado. Montevidéu: Ed. Pueblos Unidos, 1950, p. 104. Apud SODRE, Nelson Werneck. Síntese de História da Cultura Brasileira. 9 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

 

[2] CHARTIER, Roger. Apud BURKE, Peter. Variedades de História Cultural . Rio de Janeiro: Civilização. Brasileira, 2000.

 

[3] BURKE, Peter. Variedades de História Cultural . Rio de Janeiro: Civilização. Brasileira, 2000.

 

[4] Ver: THOMPSON, Edward. A Formação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
 

Referências Bibliográficas
 

BASBASUM, Leôncio. História Sincera da República. Das Origens até 1889 (Tentativa de Interpretação Marxista). Rio de Janeiro: São José, 1957.

BURKE, Peter. Variedades de História Cultural . Rio de Janeiro: Civilização. Brasileira, 2000.

CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da História. Ensaios de Teoria e Metedologia. Rio de Janeiro:Campus, 1997.

HOBSBAWM, Eric.  Sobre História. Trad. Cid Knipel. São Paulo: Cia. das letras, 1998.

LE GOLF, Jacques e NORA, Pierre. (Org.). História: Novos Problemas. 3 ed. Trad. Theo Santiago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História CulturalCol. História & Reflexões. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

RODRIGUES, José Honório.  História e Historiadores do Brasil.  São Paulo: Fulgor, 1965.

SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de História da Cultura Brasileira. 9 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

THOMPSON, Edward. A Formação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais; a Pesquisa Qualitativa em Educação.  1987.

VENANCIO, Giselle Martins.  “Viver para lembrar”.  In: Jornal do Brasil, Rio de Janeiro: 8 ago.1993, p. 27
 

Resumo: Este trabalho apresenta as estratégias utilizadas pelo autor na elaboração de uma “nova” História para o Contestado, com diferenças profundas sobre o que é conhecido. Após conceituar cultura, situar o Homem do Contestado no contexto da totalidade e fornecer aspectos da teoria e método empregados, o autor fala sobre como usa também o viés cultural tanto para construir como para transmitir a história regional.

 

Palavras-chave: História do Contestado. Cultura Regional. História Cultural.

 

*Professor de História de Santa Catarina e de História do Contestado no Campus de Caçador da Universidade do Contestado. Historiador, pesquisador do Museu Histórico e Antropológico da Região do Contestado, em Caçador (SC). Mestre em História da Educação e Doutorando em História da Educação na UNICAMP. Autor de 24 livros e dezenas de artigos científicos sobre o temário Contestado. [e-mail: nthome@cdr.unc.br]

Fechar