DISCURSO DO
PROFESSOR EURICO DE LIMA FIGUEIREDO AO
TOMAR POSSE NO NÚCLEO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE
Exmo. Sr. Prof.
Cícero Mauro Fialho Rodrigues, Magnífico Reitor da Universidade Federal
Fluminense,
Ilmos. Srs. e
Sras Membros dos Conselhos Superiores
Ilmos. Srs. Membros
do Conselho Acadêmico do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal
Fluminense que hoje e aqui tomam posse
Ilmas.
Autoridades universitárias aqui presentes,
Prezados colegas
que compõem a mesa,
Prezados colegas
do corpo docente e alunos do corpo discente,
Prezados
Funcionários da UFF,
Meus queridos
amigos, amigas,
Senhores e
senhoras,
Ressurge o
Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense – o NEST/UFF
- guardando grandes expectativas e generosos objetivos. Pretende reunir em
torno da mesa de reflexão e pesquisa civis e militares com o objetivo de traçar
os rumos de nosso planejamento como nação culturalmente íntegra, como
coletividade republicana, democrática e justa, e como Estado à altura da defesa
perene da soberania nacional. Todos essas metas devem se encaixar em um projeto
que privilegie, como suposto, a convicção de que, na prevalecente sociedade de
conhecimentos, nada é mais importante do que o próprio conhecimento. Na posse
dessas idéias-força, sabemos que serão muitos os obstáculos a vencer. Ter-se-á
que enfrentar a guarda pretoriana do neoliberalismo que consagra o mercado como
deus ex-machina da transformação
social. Haverá que se defrontar com os apóstolos do Estado mínimo, como se não
fossem simplesmente gigantescas as funções estatais na maior sociedade de mercado
do mundo hoje, os Estados Unidos. Será preciso se encarar os arautos da
globalização que proclamam a inoperância dos atores estatais face aos desafios
atuais das sociedades internacionalizadas, desconhecendo o nacionalismo
praticado pelas grandes potências em defesa de seus interesses. Será necessário
flanquear os descrentes nas possibilidades do nosso povo, que mais parecem
exilados em seu próprio país. No entanto, há mais. Vencer os pessimistas de
toda ordem que, achando que os jogos estão feitos, conformam-se com a ordem
mundial vigente que condena a grande maioria da Humanidade à privação dos
direitos fundamentais do Homem. Peitar os conservadores de ontem e de sempre
que acreditam na força da permanência das estruturas, antes do que no poder da
mudança e na busca de projetos contra-hegemônicos. Lutar contra os reacionários
que querem fazer os ponteiros da história regredir, embora não saibam nem mesmo
para onde. Reagir contra os dependendistas de má cepa que leram erroneamente a
história, e apostam no congelamento dos sistemas de dominação, asfixiando a
esperança. Opor-se aos adeptos de pensamentos gerados em outras realidades mais
avançadas, cujos modelos não captam a força na nossa realidade, tão complexa
quanto singular, acomodando-se a uma espécie de mentalidade neocolonial, cujas
raízes vêm de longe. Resistir aos seguidores das teses do fim da história, que
não se apercebem que é impossível naturalizar-se os processos sociais que,
sendo criados pelos homens, podem também ser por eles mesmos modificados. Combater
os pós-modernos de diferenciada estirpe que, professando o ponto de vista sem
ponto de vista, desconhecem que os poderosos não têm dúvidas em fazer impor
seus pontos de vista, seja pela força da política, seja pela política da força.
Neoliberais e estaticidas, descrentes e pessimistas, conservadores e
reacionários, dependendistas e neocolonialistas, naturalistas da história e
pós-modernos podem, no entanto, esperar o bom combate. À heterodoxia do
pensamento que busca a novidade, deve ajustar-se à ortodoxia fundamentada nos
cânones da boa ciência. A precisão dos conceitos, a proposição impregnada pelo
minucioso labor teórico e submetida à penosa metodologia da demonstração
empírica, as conclusões inevitavelmente abertas, pois, tal como acontece com a própria
vida, a ciência só cresce com a retificação do erro. O saber obedece, desde
sempre, com o que denominamos de “protocolo socrático”: o que se sabe é que
nada se sabe, com a condição de que se possa colocar em debate tudo aquilo que
se sabe...
Na história moderna e contemporânea,
de meados do século XV aos nossos dias, não houve grande nação que não contasse
com o sólido intercâmbio entre a ciência, a tecnologia e a técnica – personificada
na produção acadêmica - e a corporação militar. Com a primeira Revolução
Industrial, entre 1750 e 1850, entraram as sociedades européias em tempos de
grandes, profundas e notáveis transformações. No dizer de um dos mais ilustres
representantes do movimento Iluminista, Voltaire, “os livros passavam a
governar o mundo”. A Revolução Francesa de 1789, emancipando a burguesia e, sobretudo,
o camponês, levou ao abandono dos exércitos organizados a partir de linhas
fixas – a própria imagem da rigidez do regime absolutista-, transformando-se,
gradativamente, em exércitos de massa, abertos a um amplo repertório de
movimentos. Os progressos da balística tornaram possível o alcance maior do
poder de tiro dos canhões, e as carroças mais leves construídas por Grebevaul, permitiram
o deslocamento mais rápido das baterias. Em 1777, os avanços da tecnologia no
campo bélico permitiram a introdução da culatra curta, já que, até essa época,
a culatra nada mais era do que o simples prolongamento do cano. Pode a
infantaria, então, dispor de armas mais leves, mais certeiras e mais precisas,
propiciando novas concepções de combate, baseadas na variabilidade das
formações dispersas. As descobertas e as invenções modificaram para sempre a
mentalidade militar, cujo intérprete mais ilustre e mais completo foi Carl Otto
Gottlieb Von Clausewitz (1780/1831). O progresso da ciência e da tecnologia chegou
aos oceanos no final do século XIX, quando, em 1897, John P. Holland projetou o
primeiro submarino moderno, lançado aos mares pela marinha americana em 1990
com o nome de USS Hunley. Os vôos de Dumont e dos irmãos Wright, na primeira
década do século XX, introduziram o mundo na era do “mais pesado do que o ar”,
modificando para sempre as concepções estratégicas da guerra e da paz. Hoje, as
forças armadas mais atualizadas do mundo, entre as quais se incluem as
brasileiras, revêem, no contexto da chamada
military transformation, a modelagem estrutural dos seus sistemas de defesa
à luz do complexo teleinfocomputrônico, para usar a expressão cunhada pelo meu
querido amigo René Dreifuss. É por isso que os políticos das grandes potências,
quando se permitem deixar de lado a máscara ideológica, não escondem a força
das coisas. Diz
Tony Blair, o primeiro-ministro britânico: “diplomacy
works best when backed by the threat of force. Ou, “a
diplomacia trabalha melhor quando apoiada pela ameaça da força”.
Intrincado campo de conhecimento esse, o dos
estudos estratégicos. De início, as dificuldades
de entendimento surgem do próprio modo como o termo “estratégia” é utilizado de
maneira frouxa e imprecisa na literatura em geral. “Estratégia de marketing”
“estratégia financeira”, “estratégia operacional”, eis apenas alguns exemplos
de como a palavra é usada livremente, sem maior preocupação com a exatidão de
seu emprego. Talvez isso se deva à origem etimológica do vocábulo, onde strategos, em grego, significa general,
ou aquele que lida com o que tem de geral ou amplo no planejamento das batalhas.
Em seguida, mesmo entre os especialistas, não se encontra pacífico consenso a
respeito do conceito. Contemporaneamente a literatura em geral referente aos
estudos estratégicos propõe que a disciplina se restrinja à análise do papel do
poder militar na política internacional, ora em sentido estrito (forças
armadas, desenvolvimento, estrutura, logística), ora em sentido lato
(eficiência do poder militar face à ação econômica e diplomática,
principalmente, tendo em vista a consecução dos objetivos do Estado), ora com o
sentido mais genérico de análise conjugada da organização do poder militar e do
poder de Estado.
Se, durante a Primeira Revolução
Industrial, as bases do pensamento estratégico dos Exércitos mais modernos
foram influenciados, na sua percepção e concepção, pelas contribuições
clássicas de Carl Von Clausewitz e Antoine Henri Jomini, na Segunda Revolução
Industrial, entre 1860 e 1914, as dimensões naval e aérea foram postas em
questão. O almirante norte americano Alfred Thayer Mahan (1840/1914) e o inglês
Julian Corbett, com o seu livro mais conhecido, Alguns Princípios de Estratégia Marítima (1911), nesse sentido,
deram clássicas contribuições. No campo da estratégia área tornar-se-iam
referências obrigatórias as prescrições estratégicas do oficial de cavalaria e
engenheiro do exército ítalo, Giulio Douhet. O estrategista italiano, já na
primeira década do século XX sustentava que “o céu se tornaria um campo de
batalha tão importante quanto a terra e o mar”. Mas os estudos estratégicos só
iriam tomar suas feições mais contemporâneas depois do término da Segunda
Guerra Mundial. No decorrer da década de 50, com os novos meios de destruição
maciça, houve necessário estímulo intelectual para a formação de centros de
análise e pesquisa sobre o assunto na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, não
por mero acaso os países onde, respectivamente, ocorria o ocaso de um Império,
e se consolidava a ascensão de outro. A concreta possibilidade do holocausto
nuclear colocou em discussão o conceito crítico de “dissuasão”, que estaria
intimamente ligado às estratégias relativas ao controle da escalada nuclear.
Amparados metodologicamente na chamada “teoria dos jogos”, onde problemas
políticos (portanto, humanos) eram tratados tecnicamente (portanto, como
abstrações), essas abordagens logo tiveram que ceder espaço para análises mais
propriamente políticas, mais complexas e inevitavelmente mais densas. Na
periferia e semiperiferia do sistema internacional, no contexto da Guerra Fria,
os estudos estratégicos em países como o Brasil, tenderam a se desenvolver a
partir de uma lógica subsidiária ou
complementar à ação da potência norte-americana, pelo menos na sua versão
oficial. Com o final da Guerra Fria, a partir do final anos 80 e início dos
anos 90 do século XX, que coincide com a transição democrática nos países da
América do Sul, notadamente no cone sul, os estudos estratégicos no Brasil, passaram
a tomar novas feições, tanto em termos quantitativos, quanto, principalmente,
qualitativos. Cada vez mais entre nós, além dos estudos tradicionalmente
produzidos nos círculos militares e diplomáticos, e da rarefeita produção de
caráter jornalístico, a academia passou a ocupar, progressivamente, mas também
legítima e necessariamente, espaço como interlocutor qualificado no debate
estratégico.
Amplo, difícil, intricado tema, esse, o
dos estudos estratégicos. Não será, assim, nessa oportunidade, o caso de desenvolvê-lo
mais ainda, aqui e agora. Isso está sendo feito em um outro trabalho que
concluiremos em breve. É hora, então, de reorientar o foco de nossa exposição, e
propormos algumas breves considerações sobre o ato que hoje aqui se realiza. Será
preciso abordar mais três pontos. O primeiro consubstanciará breve relatório
que ofereceremos ao nosso Reitor, às demais autoridades da UFF, aos colegas do
Conselho Acadêmico e ao público em geral, depois de quase um ano como
Coordenador Executivo do NEST. O segundo sublinhará a importância deste evento
e explicitará nossos agradecimentos à Universidade Federal Fluminense que, representada
pelo seu Magnífico Reitor, tem dado forte e franco apoio às nossas iniciativas.
O terceiro, finalmente, tecerá algumas breves considerações sobre o principal
do dia de hoje: o significado da posse do nosso Conselho Acadêmico.
O NEST foi
criado em 1986 através da Norma de Serviço 308 do então Reitor da Universidade
Federal Fluminense, Professor José Raymundo Romêo. Homem dotado de notável
tirocínio político, e tendo como umas suas principais características a ágil
tomada de decisão, o Professor Raymundo Romeo logo se apercebeu da importância
das propostas levadas a ele por René Dreifuss e por mim mesmo, no inicio de
agosto daquele referido ano. Poucos dias depois, 21 de agosto, ele assinou a
citada Norma de Serviço que, na verdade, quase que ipsis literis, traduzia, em adequada linguagem administrativa, a
concepção que René havia desenvolvido sobre o que deveria ser um centro de
estudos estratégicos. Em outra portaria, ainda na mesma data, designou René
como Coordenador Executivo e este orador como Coordenador Adjunto. Sob a
liderança de René Dreifuss, um dos mais brilhantes cientistas sociais de sua
geração, lamentável e prematuramente falecido no ano passado, o NEST funcionou
durante algum tempo com sucesso, tendo sido responsável por diversas pesquisas
de monta e iniciativas que ficarão registradas na história ainda a ser escrita
dos estudos estratégicos neste país. Desativado há já um bom tempo, e procurado
por mim, o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Dr. Sidney Luís de
Matos Melo, concordou em ouvir as exposições de motivos que a ele apresentei,
no ano passado, visando a reorganização do NEST. Convencido da validade de meus
argumentos, resolveu solicitar ao nosso atual Magnífico Reitor minha designação
como novo Coordenador Executivo, o que foi feito através da portaria assinada
em 11 de dezembro de 2003, o que de pronto significou a reativação do nosso
NEST.
Nesse quase um
ano de atividades não foram poucas as dificuldades por nós enfrentadas,
mergulhadas que estão as universidades federais em crônica falta de recursos,
já que desde há muito não temos uma política de educação que, para valer,
entenda o papel da educação superior no processo de emancipação do Brasil. A
percepção de que sempre faltou ao Brasil um projeto de nação que realçasse,
antes de tudo, a compreensão do lugar estratégico da educação na construção de
nosso futuro, nos inspirou a criar um brasão onde fizemos escrever sapientia potentia est, ou, saber é poder. Desse modo, era como se,
a partir dessa verdadeira petição de princípio, estivéssemos traçando o rumo de
nossos trabalhos.
Primeiro era
preciso montar uma estrutura acadêmica que, em termos operacionais, e a partir
da grande autonomia e agilidade que me proporcionava o ato de instituição do
NEST, pudesse atrair consciências que ficassem persuadidas da validade de
nossos objetivos. Estávamos convencidos de que não são os bons e fartos
recursos que produzem as boas idéias; ao contrário, estávamos - como estamos!-
convencidos de que são as boas idéias que unem as pessoas que, por elas
motivadas, põem-se a trabalhar com dedicação e, com isso, acabam por captar os
recursos de que necessitam. Atraídas as competências certas para as funções
certas, era preciso estabelecer uma estrutura de convivência baseada na
cooperação antes do que na competição. E que, sem nada de início, a não ser a
vontade indômita de querer fazer, sonhassem com os pés no chão, se dispusessem
a fazer o caminho, caminhando. Tenho agora ao meu lado o meu amigo Mauricio
Dias David, companheiro de boa jornada há mais de 20 anos, economista de
renome, ex-Diretor da Faculdade de Economia da UERJ, Dr. em Economia pela
Universidade de Paris, com farta experiência, inclusive internacional. O
general Iberê Mariano da Silva, ex-Diretor de Pesquisas Especiais e ex-Diretor
do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento, ambos pertencentes ao Exercito
Brasileiro, com pós-graduação na França. O Professor Ronaldo Leão, economista
de formação, com pós-graduação pela Escola Superior de Guerra, e que se tornou
nacionalmente conhecido quando, na Guerra do Iraque, foi contratado pela rede
Globo como especialista em estratégia militar para comentar para o público os
principais episódios militares do conflito. O professor Ítalo Pesce, professor
do Centro de Produção da UERJ, autor de mais de 100 artigos sobre assuntos
estratégicos e detentor, em quase cem anos de sua instituição, do primeiro e
único prêmio oferecido a um civil pela Revista
Marítima Brasileira pelo trabalho De
Costas para o Brasil,- A Marinha Oceânica do Século XXI. O professor de
História na UFF, doutor Ângelo Segrillo, ainda bastante jovem, mas já com cinco
livros publicados, sendo um deles selecionado para concorrer ao Prêmio Jabuti,
uma grande distinção que é ofertada a poucos intelectuais brasileiros. O meu
querido ex-aluno e orientando na área de Ciência Política, Professor Márcio
Malta, que, como uma espécie de factótum,
tem evidenciado múltiplas competências e habilidades, sendo, inclusive, a
partir de concepção nossa, o autor artístico de nosso brasão. Paralelamente à
montagem da estrutura operacional e de apoio, partimos à busca de contatos e
parcerias. Em setembro deste ano firmamos acordo de cooperação com o Centro de
Estudos Estratégicos da prestigiosa Universidade de Campinas. Temos procurado,
igualmente, as instituições militares. Fomos muito bem recebidos na Escola do
Comando do Estado Maior do Exército pelo seu Comandante, General Luís Eduardo
Rocha Paiva e por toda a equipe do Centro de Estudos Estratégicos, a começar
pelo seu Chefe, Coronel Eduardo Cunha da Cunha, e pelos seus oficiais adjuntos,
Coronel Francisco Mamede de Brito Filho, Coronel José Maria da Mota Ferreira,
Tenente Coronel Rui Matsuda e pelo Sub-Tenente Ricardo Pereira Cabral.
Iniciamos diálogo com a Escola de Guerra Naval através do Contra Almirante
Reginaldo Reis, do Centro de Estudos Político-Estratégicos. Na Marinha
Brasileira, além do Almirante de Esquadra Mauro César Rodrigues Pereira, e
sobre o qual falaremos mais adiante, encontramos recepção entusiasmada,
calorosa mesmo, na liderança sensível e perceptiva do Contra Almirante Antônio
Alberto Marinho Nigro, Comandante da Frota de Superfície, o que muito nos
desvanece, já que, nesse início temos tão pouco a oferecer, a não ser o desejo
de fazer, acontecer e servir, em prol de um valor supremo que a todos nós deve
unir, o bem maior do nosso grande país. Procuramos, também, outros eminentes
colegas para compartilhar propósitos, divulgar projetos e socializar idéias. É
preciso mencionar, então, o Professor Benício Viero Schimidt da Unb e atual
Coordenador Geral de Cooperação Internacional da CAPES; o Professor Titular de
História da UFRJ e Professor Emérito da Escola de Comando do estado Maior do
Exército, Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva; o Professor e Embaixador Dr.
Paulo Roberto de Almeida do Núcleo de Assuntos Estratégicos, órgão da
Presidência da República; o professor Manuel Domingos Neto, meu velho
companheiro desde a década de 80 de trabalhos e reflexões sobre as relações
entre forças armadas e sociedade e atualmente Vice-Presidente do CNPq; o
Professor Dr. Severino Cabral, Adjunto da Divisão de Estudos Estratégicos da
Escola Superior de Guerra; o meu bom amigo, o cientista político Hélgio
Trindade, ex-Reitor da UFRS e atual Presidente da Comissão Nacional de
Avaliação do Ensino Superior Professor; last
but no the least, Dr. Nelson Mariano, professor aposentado de Química pela
UFF, Major do Exército na reserva, atualmente Diretor da IMBEL, e pesquisador
associado do NEST. Nelson, entretanto, entre todos os acima relacionados, possui
um título imbatível: é pai de minha nora, a mais que querida Daniela, casada
com meu amado filho Leonardo. Muitos outros colegas e companheiros, através de
palavras e gestos, nos têm trazido, certo e ainda, apoio e solidariedade, mas
infelizmente não podemos nos referir a todos. Pedimos desculpas pelas eventuais
omissões.
Sim, primeiros
passos. Montagem da estrutura
operacional, contatos e apoios, mas, em seguida, os outros. Promovemos no
presente semestre o nosso Primeiro Ciclo de Palestras do NEST com o
comparecimento promissor de nossos estudantes e de um público selecionado. Os
teores de nossas conferências têm sido publicados, periodicamente, no Caderno
de Fim de Semana do jornal Gazeta Mercantil de São Paulo, multiplicando em
milhares de vezes o alcance de nossas idéias e propostas. Na verdade, Magnífico
Reitor, no que diz respeito à divulgação do nome de nossa querida UFF pelos
meios de comunicação com a sigla do NEST, não temos dúvidas em dizer que
nenhuma outra unidade de nossa universidade mais operou do que a nossa. Basta assinalar
que somente o Prof Ronaldo Leão concedeu quase uma centena de entrevistas a
rádios, jornais e revistas, sendo que um número substancial delas foi para as
redes nacionais de televisão. Este orador, assim como os demais companheiros, têm também dado muitas
outras entrevistas, e igualmente em bom número, sempre se referindo à nossa UFF.
Dispomos agora, também, de um sítio na Internet através do qual mantemos a
comunidade acadêmica e a sociedade em geral devidamente informada sobre nossas
atividades e projetos. Além disso, a equipe do NEST tem publicado artigos
assinados no jornal O Monitor Mercantil,
no Rio de Janeiro.Não obstante, todos têm razão, entre eles o meu querido amigo
Mauricio Dias David, quando dizem que isso é ainda muito pouco, enquanto as
dificuldades são ainda de tão grande porte. As dificuldades, entretanto, quando
se tem valioso propósito a ser alcançado, e a alma não é pequena, como nos diz
o conhecido verso, servem ara enrijecer a vontade e aumentar ainda mais grau de determinação.
Nenhum homem é
uma ilha, disse o filósofo com o olhar de longo alcance. Na sociedade vivemos
com o apoio, o incentivo e a solidariedade daqueles que, espontaneamente,
reconhecendo nossos eventuais méritos, nos prestam sua ajuda e colaboração.
Somos daqueles que compreendem que a gratidão não é uma virtude, mas um dever,
uma espécie de autocrítica que fazemos, até para nos apercebermos melhor das
circunstâncias com as quais dialogamos. Tenho, assim, que fazer algumas breves
referências ao nome de algumas pessoas que nos tem oferecido seu prestigioso
apoio, pedindo desde já desculpas, mais uma vez, por ocasionais omissões. Em
primeiro lugar, é claro, necessário se torna citar, antes de todos, o Magnífico
Reitor da UFF, o Professor Cícero Mauro Fialho Rodrigues. A sua concordância na
realização deste ato e, mais do que isso, sua aceitação para pessoalmente
presidi-lo, encontrando espaço na sua congestionada agenda de obrigações,
mostra bem, e por si só, o seu entendimento da importância que o Núcleo de
Estudos Estratégicos goza nessa grande universidade, sinalizando o suporte
institucional que ao NEST foi conferido. Mas é preciso fazer alusão a outros
importantes dirigentes da UFF. São eles, o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação,
Professor Sidney Luís de Matos Mello, ao qual já fiz especial menção
anteriormente; o Professor Humberto Machado, Diretor do Centro de Estudos
Gerais que tanto tem se entusiasmado com nossas idéias, o Professor Francisco
Palharini, Diretor do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia que tem nos
prestado toda a assistência possível, embora, a título de amistosa e camarada
provocação ainda nos deva uma sala de trabalho; o Professor Cláudio de Farias
Augusto, Chefe do Departamento de Ciência Política, meu ex-aluno, hoje meu
querido amigo, e que nos prestigia sempre.Todos, todos eles, e mais alguns que
memória falha não permite no momento lembrar, têm nos prestado solidariedade e
incentivo, em um relacionamento afetuoso, típico de nossa querida UFF, que muito
nos envaidece, nos engrandece mesmo, nos dá força. A lista seria, no entanto,
incompleta, se mais um nome não fosse incluído. Peço, assim, para finalizar
estas referências, licença para um breve parêntese gramatical e trocar o
pronome da primeira pessoa do plural para o da primeira pessoa do singular.
Tenho que destacar o nome de meu colega e amigo de muitos anos, Professor
Gisálio Cerqueira Filho. Durante toda a minha já longa carreira, ele sempre me
ilustrou com o beneplácito de sua amizade. Foi com seu decidido apoio que pude
levar a bom termo minha administração como Chefe do Departamento de Ciência
Política da UFF, durante três mandatos consecutivos. Foi ele o autor da
proposta que levou a UFF a me fazer a outorga do título de Notório Saber, uma das altas homenagens que esta universidade pode
fazer a um dos seus professores, equivalente na hierarquia de distinções
acadêmicas ao título de Doutor Honoris
Causa. Foi ele quem, em difícil
quadra de minha vida, passando por sérios problemas pessoais, me estendeu a mão
e me convidou para lecionar nos cursos de graduação e pós-graduação da
prestigiosa PUC/RJ, onde ele era Diretor do Departamento de Sociologia e
Política, aliviando a carga de minhas responsabilidades financeiras. Foi ele
quem, não obstante achar que estava sonhando demais -um dos meus maiores
vícios, é verdade - resolveu prestar seu prestigioso apoio para que o NEST
pudesse ser reativado. Agora, nesse mesmo momento, embora sabendo de meus
pesados encargos, e por isso mesmo me levando a vencer minhas próprias
resistências, está sendo responsável pela minha candidatura, aliás infelizmente
única, pois não tenho chances de ficar em segundo lugar, ao cargo de
Coordenador do Programa de Pós-Graduação de Ciência Política da UFF, em fase de
implantação de seu curso de doutorado. Sobre ele aqui e agora posso dizer,
cantarolando na mente a conhecida canção, que não é preciso nem dizer, mas é
muito bom saber, que ele é meu amigo de fé e meu irmão camarada.
Finalmente,
algumas rápidas considerações sobre o sentido deste ato, no plano real,
imaginário e simbológico. Os nomes que compõem o Conselho Acadêmico do Núcleo
Acadêmico ilustram qualquer colegiado e honram qualquer universidade, quer
pelos altos méritos intelectuais de cada um deles, quer pelos altos cargos que todos
eles ocupam ou já ocuparam na vida pública brasileira. O nosso cerimonial, logo
no início dessa cerimônia, já nos deu breves indicações sobre seus títulos. Mas
será preciso fazer algumas referências de caráter mais pessoal. Alguns deles são
amigos de longuíssima data, como os Professores Antonio Celso Alves Pereira e
Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho, este último meu dileto amigo desde os
bancos escolares do Colégio Militar do Rio de Janeiro.Com o passar do tempo, o
número dos anos, quando falamos com os mais jovens, parecem chegar a cifras
inimagináveis. Conhecemos o Professor Theotônio dos Santos, com os seus mais de
30 livros publicados, e traduzidos pelo mundo afora, há mais de vinte anos,
quando, no Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação das Faculdades Metodista Bennet,
tivemos a felicidade de coordenar uma excelente equipe de professores que terá,
um dia, seu nome gravado na história das ciências sociais brasileiras. Data
desta época também meu primeiro contato com o Professor do Instituto de Física,
Raymundo Romêo, quando ele nem era Reitor, mas Diretor do Centro de Estudos
Gerais, e nós participantes da diretoria que fundou a ADUFF, Associação dos
Docentes desta universidade, no final dos anos 70 e início dos anos 80. Desde
então fizemos uma excelente amizade que muito nos honra e prestigia, embora o
tenhamos enfrentado em uma chapa que se opunha à sua, na eleição que o
consagrou, pela segunda vez, Reitor de nossa UFF. Foi também nesse tempo que
tivemos o primeiro encontro com o Professor Luís Fernandes e sua futura mulher,
Clara, naquela oportunidade Presidente da UNE, e eu Coordenador-Chefe da
campanha do candidato do PMDB, Miro Teixeira, ao governo do Estado do Rio de
Janeiro. Iríamos revê-lo mais tarde quando, supomos, ele pensou em cursar o
curso de Pós Graduação do Bennett. Mal poderíamos imaginar que ele seria nosso
colega, alguns anos depois, já detendo o título de Mestre em Ciência Política, no
Departamento de Ciência Política da UFF e que entre nós seria construída uma
boa e franca amizade. Passamos a conhecê-lo melhor ainda na conjunção de forças
para enfrentar problemas difíceis da política acadêmica em nossa unidade. Luís
Fernandes, com o passar do tempo, devido ao seu brilho, profundidade e
seriedade intelectuais, que coexistem com o mais monolítico dos caracteres, tem
conquistado nossa profunda e constante admiração, Dizemos sempre ele, prevendo
seu grande futuro, que, ele, atualmente Secretário Executivo do Ministério de
Ciência Política, será um homem fadado, para felicidade do Brasil, a ser
Ministro de Estado da República. O Professor Renato Lessa, Titular de Ciência
Política da UFF, no momento presidindo o Instituto Ciência Hoje, instituição
vinculada à prestigiosa Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC,
tem sido, principalmente nos últimos anos, quando nos unimos para enfrentar
desafios comuns na nossa vida acadêmica, grande e leal amigo. Na verdade,
Renato, tendo em vista a brilhante carreira que tem cumprido nas Ciências
Sociais de nosso país, ilustra bem a capacidade da UFF de formar pesquisadores
e docentes do mais algo nível, inclusive em termos internacionais, já que tendo
Renato feito sua graduação nesta universidade, acrescenta sentido e motivação
ao trabalho de todos nós. Infelizmente, devido a compromissos inadiáveis, e
como havíamos marcado a realização deste evento para o dia 29 de novembro,
alguns desses queridos amigos não puderam comparecer a este ato e nos enviaram
suas escusas a fim de que nos pudéssemos apresentá-las ao Magnífico Reitor e a
todo o público aqui presente. Antônio Celso está em Recife cumprindo missão
pela CAPES; Romeo embarcou ontem para a Finlândia para participar em congresso
científico; Theotônio embarca hoje para Paris onde fará exposição em seminário
internacional; Renato está presidindo neste instante colóquio Brasil-Portugal.
Tendo feito essas
breves referências em relação aos civis, precisamos agora nos referir aos
oficiais generais que compõem nosso Conselho. Na verdade, nosso Conselho
Acadêmico, estaria incompleto, e na realidade não faria para nós sentido, se nele
não tivesse lugar para o assento de legítimos representantes de nossas forças
armadas. O Almirante de Esquadra Mauro César Rodrigues Pereira, ex-Ministro de
Estado da Marinha do Brasil, tem nos dado decidido suporte e não regateado sua
preciosa colaboração. Militar ilustre, inclusive com sólida formação acadêmica,
já que consta em seu currículo título que é equivalente entre nós ao de Doutor
em Engenharia Eletrônica, obtido nos Estados Unidos, é uma liderança querida e
respeitada pela força naval. Além disso, é ardoroso defensor de todas as idéias
que possam contribuir para a elevação de nosso grau de autonomia face ao mundo
unipolar que aí está. Temos planos, na verdade, modificando-se os termos de
nosso Regimento, em lhe passar a Presidência deste Conselho em tempo próximo, tendo
em vista a sua dedicação, capacidade e entusiasmo. O General de Exército Luís
Gonzaga Schöeder Lessa, atual Presidente do Clube Militar, cumpriu brilhante
trajetória, tendo exercido o Comando Militar do Leste e o Comando Militar da
Amazônia. Passamos a conhecê-lo depois de uma série de artigos publicados pelo
jornalista Márcio Moreira Alves, onde ficou realçado o seu perfil de ardoroso
defensor dos interesses nacionais brasileiros em uma região tão estratégica
para o nosso futuro, como a amazônica. Sabemos, ademais, de sua pregação,
Brasil afora, a respeito das nossas necessidades como Estado nacional, livre e
soberano. O Major Brigadeiro Rui Moreira
Lima é, antes de tudo, um herói do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Nos céus
da Itália cumpriu mais de noventa missões de combate contra as forças
nazi-fascistas, tendo recebido por isso as mais honrosas condecorações de
vários países. O famoso grupo de caças, sob a lendária legenda “senta a pua”,
mostrou bem do que é capaz o militar brasileiro, mesmo quando enfrenta os mais
experimentados e capazes inimigos. Não fosse isso o bastante, o Brigadeiro
Moreira Lima sempre se destacou, no desenvolvimento de sua trajetória, pela
defesa de um nacionalismo sem xenofobia e o respeito sem temores à ordem
democrática da República. Como dissemos no início desta alocução, não se
constrói uma grande sociedade sem o sólido intercâmbio entre a ciência, a
tecnologia e a técnica –personificada na produção acadêmica - e a corporação
militar. Parafraseando o grande Tucídides, que viveu entre 460 e 400 AC, em
passagem famosa na sua monumental obra sobre o conflito de Peloponeso, podemos
propor que as nações que separam os intelectuais dos seus soldados, condenam-se
à desvirilização da política e à incompetência na guerra. Queremos que seja a
UFF um espaço de encontro e reflexão entre civis e militares para que se
imagine, com toda a liberdade criadora, as melhores alternativas estratégicas
deste grande país.
Eis aí, portanto,
nosso Magnífico Reitor, Professor Mauro Cícero Fialho Rodrigues, e prezado
público, o sentido simbológico profundo da posse deste Conselho. As
personalidades que o compõem representam, emblematicamente, o perfil de um
projeto de nação que estamos ainda por realizar. Uma sociedade comprometida com
o conhecimento porque é nele que se conquista a verdadeira independência. Um
país dedicado à causa da República democrática, ditando o rumo de uma política
de desenvolvimento realmente integrativa. Uma coletividade voltada para o
resgate de uma dívida social que, como bem disse o Presidente Tancredo Neves, é
a maior entre todas as nossas dívidas. Uma nação reconciliada consigo mesma,
sem amargores do passado e voltada para os planos generosos do futuro, capaz de
oferecer ao mundo a peculiar visão do modo de pensar e sentir e agir da
civilização brasileira. Um grande Brasil, que, sendo capaz de construir um
competente sistema de defesa, seja igualmente capaz de garantir o seu legítimo
direito de querer ser, no concerto dos Estados, livre, forte e soberano que,
com o apoio dos homens de boa vontade em todo o mundo, esteja sempre voltado
para a paz.
Muito obrigado.